30.11.13

Loucura destilada

como alguém que busca refugio, chego em casa fugindo do rodizio.
 e lá to eu, sozinha as cinco da tarde de uma sexta-feira qualquer. epa! qualquer não, mas eu ainda não sabia disso. matinha o ritmo frenético daqueles seres autônomos que acabaram de voltar das primeiras ferias de 20 dias dos últimos 20 anos. daqueles que apresentam os típicos sintomas de dividas financeiras e emocionais, e um leve ressentimento por não ter tido um pai rico, ou pelo menos um trabalho assalariado com direito a tudo, inclusive decimo terceiro - que aliás, deveria vir logo depois das ferias. mas que porra to fazendo em casa! foi ai que me dei conta que o rodizio era mais um dos compromissos que a culpa havia me agendado. respirei fundo tentando me atualizar que meu primeiro final de semana livre havia chegado. ah! por isso voltei pra casa.
CORTA
lá to eu desfrutando, exatamente da maneira que imaginei antes, da minha poltrona de leitura. aquela que foi cuidadosamente escolhida para acompanhar o livreiro antigo e criar toda a atmosfera intelectual do seculo passado... do baralho do Aleister Crowley, rastejo para um livro do Reich e depois de ler algumas paginas que me interessam, faço a comparação do peso de sua obrigação para provar sua tese na sociedade do seculo que corresponde ao meu livreiro, com Lowen, seu discípulo, que pelo nome já é possivel prever algo bem mais leve e romântico. gostei da brincadeira! vou pegar o livro que me interessar e ler alguma coisa sem compromisso. daí corro para Robert Anton Wilson, o lisérgico coleguinha de Timothy Leary, um cínico divertidíssimo que desconstrói todos os conceitos científicos e religiosos como numa conversa de boteco ... depois o profundo O Segredo da Flor de Ouro do Jung - meu deus! preciso ler esse livro de novo! - para acabar no João Ubaldo Riberio, um livro de contos engraçadíssimo que li na minha adolescência. não sem antes passar por todos os títulos e autores, me atualizando agora das expectativas que tinha quando encontrei cada um. e na viagem entre uma epopeia japonesa, um bocado de filosofia do seculo XIX com dedicatórias do meu pai, psicanalise, astrologia, biologia e misticismo, além dos livros que nunca li por me parecerem não-genuínos ... achando que a loucura vinha do inocente vinho que me acompanhava, conclui. todo mundo fala a mesma coisa! como numa maquina de fazer loucos, de um pra outro, fui seguindo meio que ingenuamente as afrontas que fazem aqueles que querem provar que suas ideias são a verdade.
e num processo de destilação, das profundezas gnósticas de Aleister Crowley à filosofia do sossego de João Ubaldo Ribeiro, encontro uma essência. 






9.10.13

sob as lentes da psicopatologia na era de aquario

hoje em dia tem sido difícil adolescer sem adoecer, pelo menos aos olhos da sociedade.
no meu convívio com os adultos do futuro percebo a complexidade que é adolescer numa época em que cria-se uma psicopatologia por dia. os distúrbios de comportamento nessa faixa etária e até nos mais novos, é visto como se originados em outro planeta. tanto que muitos pais se apegam aos conceitos de crianças índigo, cristal e assim por diante... o que justifica os nascidos na era de aquário e os alivia da responsabilidade.
mas conceitos não ajudam aqueles que sofrem de uma angustia tremenda incrementada por modernos diagnósticos mistico-patológicos.
nosso planeta não mudou seu protocolo, ou seja, todos nós chegamos e saímos daqui da mesma forma. o corpo físico e seus outros corpos, mental e emocional, também não mudaram. somos todos iguais e regidos sob as mesmas leis.
mas há sim um distúrbio comportamental na maneira de olharmos para os nossos rebentos. na minha opinião, um distúrbio narcisista generalizado. pais que olham mas não veem, ouvem mas não escutam e que se acostumaram a viver desconectados da própria alma. famílias formadas por pessoas que não abriram mão do antigo paradigma cristão, muito menos do conceito moderno pagão de uma carreira promissora. e dá-lhe divorcio, babás e escolas de período integral!
pobre daquele que não ousar aprender com esses indivíduos. tudo bem que adolescente "sabe tudo", mas todos nós trouxemos algo novo, pelo menos aquilo que foi impresso por nossos pais para ser transformado... e assim deveria caminhar a humanidade. se como pais e educadores formos conscientes desse potencial em cada adulto a se tornar, teremos a nossa frente a possibilidade de atualização e rejuvenescimento. esse é o poder criativo da adolescência.
o que observo hoje nos adolescentes, de classe media-alta principalmente, é a falta de estrutura para romper com o estabelecido e seguir com suas ideias novas. longe de serem fracos, esse é o ponto que mais me intriga e fascina. são fortes, informados e muito mais interessantes do que a minha geração por exemplo (os pais dessas criaturas), que diga-se de passagem é a geração mais narcisista, a sociedade de consumo. digo falta de estrutura porque são fruto de famílias cego-surdo-mudas. fortes, porque o que eles justamente resistem até a morte, é a pressão de serem desconectados da alma. quebrados até se tornarem mais um tijolo no muro.
nós fomos incapazes de resistir ao conceito de "encaixar' e nos deixamos levar por tudo o que ele prometia. isso é o que tentamos ensiná-los, e é isso o que eles se recusam a aprender!
mas acontece que quando me dispus a escutá-los com os ouvidos da alma tentando compreender a origem da tremenda dor representada nos seus cortes, tarjas pretas, anorexias e pensamentos suicidas, a mensagem foi mais ou menos assim, "nossa dor representa aquilo que vocês já não sentem mais. sofrem tanto que nem sentem mais dor. sofrem incansavelmente por terem sido afastados do próprio Ser. sabemos que uma vida sem alma é uma vida plastica, uma mentira."
se a era de aquário significa a quebra de antigos paradigmas, se recusar a cindir com a alma é a psicopatologia desses seres. deve ser por isso que eles nos parecem tão especiais!


Ps: dedico esse à Pin que acredita tanto no amor .









17.5.13

ecomegalópolis

outro dia estava bebemorando o dia do nascimento de um amigo, o que aconteceu bem no dia do trabalho. ele é do recife e costumo brincar que tem dois figados. ele começa os trabalhos às 11 na cervejinha seguida de shots de cachaça, para chegar no começo da noite posando para fotos com taças imensas de um vinho bom. sem contar a trilha sonora que acompanha as biritas, que vai do regional pernambucano até o jazz mais sofisticado. tudo de muito bom gosto, é claro. no dia seguinte, às seis fucking da manhã, vai jogar tênis. já que alguém criou o trabalho teve que criar também um feriado. e num é que o lucky bastard nessa brincadeira ganhou dois figados! um pra passar raiva e outro pra se divertir.  mas num to aqui pra falar do figado alheio e nem pra dar inveja em ninguém.
acontece que um dos convidados faz trilhas de bike e entre uma golada e outra da conversa surgiu o papo dos acidentes trágicos, que ele mesmo sofreu vários, como todo bom biker. demos risada da consciência de massa que copia tudo sem levar em conta que essa cidade é feita de morros, bem diferente de Amsterdã.
outro amigo meu profetizava cada vez que eu montava na bicicleta "cuidado que isso machuca". devo confessar que tenho algumas cicatrizes, mas não coleciono pinos como o convidado.
e é sério! bicicleta é muito perigoso, "in a good way".
eu mesma outro dia quase atropelei um ser de meia idade, todo equipadinho com sua bicicleta meio mobilete, dessas bem modernas e caras. ele deve ter ficado confuso com o fuso, com a latitude, sei lá, mas a cara do cara era  de um holandês bem mal informado indo para o seu trabalho tentando não criar impacto.... freou em cima da faixa de pedestres, querendo atravessa-la como tal, impressionado que o transito cataclísmico da megalópolis onde nasci, não podia esperar até que ele tivesse realmente apto a manejar aquela mini geringonça.
tudo bem, é ecológico, mas tem coisas ecológicas que podem matar. sem contar os que se preocupam com o quadro de titânio, o capacete, a roupa refletiva, a porra-toda e andam pela contra-mão. assim num dá!
é uma via de mão dupla, ou cê se preocupa com a SUA natureza ou a ecologia vai te matar! essa combinação transito de São Paulo com bicicletas ainda precisa de muita educação e todos nós devemos saber das nossas possibilidades. não é apenas "vá de bike", mas "aprenda a andar de bike".
todo mundo hoje tem carro, os que sabem e os que não sabem dirigir. na maioria das vezes os que não sabem se imaginam pilotos.
num é perigoso?






31.3.13

deprimidinho colorido

"quando estamos solteiros parece que todos estão comprometidos", disse o cara do churrasco, que jura que seu relacionamento de 2 anos de idas e vindas, dessa vez acabou. "ontem não consegui nenhuma companhia além de um casal de amigos", confessou desanimado. eu disse que para mim seria mais atraente conhecer alguém nessas circunstancias, meio deprimidinho, à um caçador solitário. os olhinhos dele brilharam com o comentário que lhe valeu mais como uma dica secreta. logo outro bradou absoluto, "claro, as mulheres querem cuidar!"
acho que eu vivia em segredo essa atração, ainda que me parecesse consciente. mas acontece que o deprimidinho não é performático, - ninguém sai de casa bancando o deprimido, seria psicopático - e portanto nos permite fazer aquilo que fazemos melhor, cuidar. mais que isso, me parece que fica mais fácil cada um encontrar o seu lugar, já que a mulher se colocou no seu.  dessa forma um pode ver o outro e deixar rolar.
bem diferente daquela conversa tipica dos quarentões. não venho sempre aqui porque viajo muito... eu sou diretor da... dirijo um .... vivo num apê com vista para... tenho um filho lindo... pago pensão para minha ex, e assim por diante. como diria uma amiga, melhor enviar uma cópia do imposto de renda.
hoje compreendo que essa é a maneira masculina de dizer que pode oferecer segurança. mas daí então a fêmea moderna rebate. eu prefiro o meu BMW conversível, que comprei com o bônus anual da multinacional onde trabalho, administro a casa, os empregados e dois filhos lindos sozinha, viajo o mundo todo, malho todos os dias e nem preciso da pensão do meu ex. me parece monocromático!
não sei se os homens também preferem as deprimidinhas, mas que uma tristezinha traz todo um colorido sensual no humano, ah isso é verdade!



13.2.13

inveja do Woody Allen

se  dissesse que passei o carnaval com Woody Allen, te mataria de inveja.
mas acontece que nesse feriadão woodyalesco descobri o que me fascina nesse homem. eu tenho inveja dele, pronto falei. uma puta inveja! - já que o papo aqui ficou honesto. porque será que toda vez que falamos de inveja nos sentimos sinceros?
confesso que tenho inveja da fidelidade que ele tem com ele mesmo. assisti o documentário que o homenageia ainda em vida, e destilando toda aquela parte quando os entrevistados apenas enchem o pijama dele de bolinhas - a sabedoria piritubana é mais forte que eu - conclui, o cabra da peste don't give a shit! -  algumas expressões em inglês as vezes também são muito perfeitas.
ele é rígido  paranoico e judeu, como ele mesmo gosta de retratar como algo pejorativo. mas o cabra da peste, como um mestre, pegou todas as qualidades e características disponíveis do seu si-mesmo dessa existência e fez dessa combinação a sua saída. ficou claro no documentário que ele não é de muito contato, que é muito exigente, mas não fala. imagino uma presença inquietante. mas por outro lado também fica claro que ele não se importa. ele realmente não se importa! você se imagina vivendo assim, tão confiante?
todos nós imaginamos que em algum momento paradisíaco, viveremos livres daquelas características que "todo o mundo" considera pejorativa e seguimos pela existência sem saber ao certo três coisas que mais gostamos na vida. me dê apenas três. não vale meu filho, minha mãe, etc, mas algo seu, intimo que possa de guiar na vida.
pois é, essa é a razão da minha inveja, ele sabe! Nova York, jazz e contar historias. aos 70 ele ainda briga com a mortalidade do homem, acha a vida sem sentido, tem fobia social, e ainda assim, dentro de suas próprias restrições, cria os personagens mais interessantes.
invejo Woody Allen porque ele compreendeu muito cedo que a vida é apenas uma sucessão de eventos sem fim, mas escolheu observá-los de forma detalhada, com toda a sensualidade que a vida tem.
não o invejo como cineasta, invejo a sua clareza em saber o que pode fazer da sua vida.
bem diferente de apenas querer.


11.2.13

sýn+bíosis

simbiose é um termo que a psicanalise roubou da biologia, ainda que se esforce para encaixar o humano em outra categoria bem longe do animal, para o alivio da civilização.
a biologia observou esse fenômeno em três formas distintas. mutualismo: relacionamento entre indivíduos de especies diferentes onde ambos se beneficiam; comensalismo: relacionamento entre dois organismos vivos onde um se beneficia e o outro não é significantemente prejudicado ou beneficiado; parasitismo: relacionamento onde um membro se beneficia enquanto o outro é prejudicado.
 a psicanalise e outras ciências afins concordam que a simbiose no humano se dá nos primeiros três meses da experiencia nesse planeta, fase na qual todos nós deveríamos ter um relacionamento com um outro ser, distinto em fase de desenvolvimento, - entenda a sua mãe, ou coisa parecida que se prese - de posse de um ego. o bebe então se beneficiaria da segurança do auxilio do ego da mãe para viver suas primeiras experiencias; a mãe por outro lado, se beneficiaria da segunda fase de um relacionamento que teve inicio na gestação dando a ela o titulo de mãe; do prazer da maternagem e da alegria de se emprestar totalmente a esse ser. por se sentirem parte de toda a natureza, as mães nessa fase vivem uma especie de êxtase. 
quanto melhor for a fase de dependência no humano, mais facilmente esse se tornará independente.
em muitos casos o infante não pode depender totalmente de sua mãe, seja por ela não estar lá, ou no pior dos casos, quando essa depende emocionalmente dele e o usa narcisisticamente. seria o efeito colateral do êxtase. nos dois casos o desenvolvimento segue com uma falha na dependência, ou seja, as necessidades de cuidados não preenchidas levam a um desenvolvimento apenas parcial do ego. o curso natural é rompido dando lugar a todas as formas de relacionamento não-naturais ou insatisfatórias.
muitos de nós nem se dão conta que estão vivendo seus relacionamentos de forma não-natural. esse é o fenômeno mais triste no humano, que busca por toda uma existência um relacionamento onde ele, e apenas ele, se beneficie.  
insistindo na ilusão da própria evolução, conceito que só um animal arrogante poderia criar, nos encontramos quase sempre nas relações parasitistas e  ainda assim, dificilmente no lugar daquele que se beneficia. pelo menos é essa a forma de simbiose que encontro no meu consultório.

8.1.13

Édipo ou Cleópatra?

outro dia estava fofocando no telefone com uma amiga, sobre um amigo nosso. acontece que nós três formamos uma especie de tríade edípica para o bem ou para o mal-estar desse cidadão. ele é judeu, ela é lésbica e como ele mesmo costuma dizer, "judeu tem duas mães" - justificando que sua independência está a pelo menos o dobro da distancia, comparado a outros seres de cultura ordinária. sendo assim, formamos pra ele a tríade perfeita, mais pra threesome que outra coisa. por outro lado, pra não deixar "baratinha" e justificar essa porra toda, demos a ele o apelido de Sarah,  meio que resumindo todas as tias judias que existem dentro dele.
ele é do tipo que foi pego pela mãe e com muito esforço segue sua existência de forma quase independente. mas acontece que justamente por esse motivo o mundo todo lhe parece muito mais rico em detalhes que para qualquer outro homem, não pego pela mãe. ele adora fofocar, tarot, compras pela internet, entre outras coisas. e não é gay! isso é o que só uma mãe pra lá de boa demais pode fazer.
eu e minha amiga trabalhamos em dupla. em turnos, para o bem da verdade. ela é mais brava e ele obedece, eu sou aquela que busco em casa e espero 15 minutos na porta.
mas então, nesse dia estava atualizando-a das ultimas novidades do nosso rebento que, por alguma brincadeira karmica, nasceu anos antes de nós. fofoquei, aquela fofoca de mãe preocupada, que ele havia especulado se sua grande dificuldade em lidar com questões emocionais, não viriam de uma vida passada. na maioria das vezes sou a mãe mais compreensiva, a terapeuta, sabe comé? mas nesse dia acho que ele me pegou desprevenida. fiquei surpresa com a manobra e disse, chega! pude ver nos olhos dele que o assustei.
mas enquanto fofocávamos fofocas boas, especulamos os possíveis papeis que nossa querida Sarah atuou nas vidas passadas e concluímos, aos risos, que como num cliché fetichento, ele devia ter sido Cleópatra.
e quem não quer ser Cleópatra!





5.1.13

hasta la vista, Édipo!

  ano 1991. impressionada com os músculos de Sarah Connor do Exterminador do Futuro 2, o Juízo Final, disse, "é isso! quero ser como ela". foi um alivio, pois finalmente aos 17, havia  encontrado um modelo de mulher que se encaixava perfeitamente na dimensão da minha angustia. me tornei meu próprio treinador militar e logo estava forte e musculosa como ela. assim fui por muito tempo e o esporte se tornou uma nova compulsão, tão nociva como as outras que já havia experimentado.

 ano 2012, dias antes do fim dos tempos. alguma experiencia desencadeou na minha mente maluca uma serie de lembranças daquela garota, então resolvi assistir ao filme, o que me levou de volta para 1991.
essa que vos escreve passou por muitas experiencias desde então, inclusive a de se tornar psicoterapeuta. assim sendo, devo confessar que voltei ao passado para me analisar. para minha surpresa eu não havia me identificado apenas com aquela fêmea bélica que luta sozinha contra todos, mas com um aspecto de cada um. com o filho ameaçado de ser aniquilado e também com a maquina de matar, que não mata! como num combo edípico, circulei por todos os personagens para resultar numa identificação perfeita com Sarah.  até aqui eu ainda não tinha nem começado a ver o filme e o vovô Freud já atormentava minha cabeça com suas teorias.
  logo no começo do filme vem a frase do futuro - não me lembro que ano era, mas já não parece tão longínquo como antes - "the future is not set. there is no fate but what we made for ourselves" jesus christ, alleluia! se o meu futuro estivesse acertado naquele momento com certeza eu estaria num passado longínquo, exterminada da silva. 
depois aparece o exterminador peladinho, do jeitinho que viemos ao mundo, porém adulto e com um proposito bem programado. ele encontra o seu target,  e o garoto surpreso pergunta quem o enviou para salvá-lo. então ele responde, "você, 35 anos no futuro". dez minutos de filme e eu já tinha todos os ingredientes para processar no meu malucador-maluco.
 primeiro a surpresa com o tamanho do ódio que aquela garota sentia. depois a compreensão de que ele vinha do medo de ser aniquilada , tão grande que a fez construir uma armadura para a luta e ela mesma haveria de se tornar uma maquina de imitar sentimentos. e ainda, que aquela decisão definia o seu destino, tudo era muito sério e parecia eterno.

o mito de Édipo fala sobre destino. do destino inevitável entre pai e filho, o que se aplica igualmente as mães e filhas. a fase edípica tem inicio dos 3 pra 4 anos e segue pela vida se reeditando cada vez que nos encontramos em tríades que nos remetem a origem papai, mamãe e filhinho.  me arrisco a dizer que cada vez que nos vemos em situações onde um homem e uma mulher são figuras de autoridade, esse conflito é desencadeado (aquilo que seu terapeuta chama de padrão). mas é na adolescência sua principal reedição, quando devemos definir o modelo a seguir. o dia do juízo final! ninguém está livre da predição e seguimos matando nossas figuras de identificação ou o mundo todo, no meu caso.

back in 2012.  respiro aliviada, pois  21 anos no futuro pude dizer para aquela garota bélica que não havia nenhum destino acertado naquele momento. eu não fui aniquilada e, por pouco, não virei maquina. nós sobrevivemos!
 ... apesar desse futuro estar cheio de maquinas que imitam sentimentos.
I'll be back.





2.1.13

somos os caras do futuro

profecias a parte, mas e se for mesmo o começo de uma nova era?  e se a felicidade puder ser real. e se pudermos transitar sem preocupações, sem bagagens. e se viver se transformasse num prazer. e se pudermos viver sem duvidas e sem medo, como num playground ... e se finalmente nos tornarmos capazes de amar a si mesmo.  não seria tudo isso o fim do mundo? não seria isso o fim daquele mundo enfadonho que vivemos vida após vida? não seriamos nós os caras do futuro?

outro dia uma grande amiga exausta de tanto viver disse, "para esse trem que eu quero descer!" eu disse,"então pegue o trem de volta" e isso soou assustador até pra mim. mas só a metáfora do trem já é bastante angustiante. andar num trilho me deu a sensação de ir  apenas numa direção. pra frente, sempre! quando num trem quase não sentimos as curvas e  a experiencia parece um sanduíche sem recheio, origem-destino. a vida que segue apenas pra frente além de ser uma ilusão é um desperdício de criatividade. ilusão porque o tempo todo somos tudo ao mesmo tempo, e nada, nem uma paisagem é estática;  falta de criatividade porque não existe veiculo nenhum, além da consciência humana, que nos leve simultaneamente para diversos lugares e dimensões. lá no passado existe também a vontade de ser feliz e como tudo o que é, não é estática, melhor ainda, pode estar na sua forma mais pura.

isso me lembrou uma experiencia que tive há alguns anos atrás. não sei se já contei isso aqui...
de repente cenas da minha vida se passaram na minha mente como num filme. muitas cenas e tão rápido que fugiam ao controle da razão.  em todas elas o eu atual estava como observador. uma presença amorosa, que guardava como um anjo aqueles muitos eus das cenas. eu devia ter 36 anos naquele momento. foi intenso, tanto que pensei "deve ser isso o que as pessoas sentem quando vão morrer". daí BUM! eu fui meu próprio anjo-da-guarda até aqui! e agora? não, não era a morte me chamando, mas sim a vida me dizendo "você está exatamente onde havia imaginado e agora um outro eu, ainda maior, será seu guia".
e tudo no meu passado foi transformado. percebi que nunca estive só e nunca mais estarei. ir para o passado deixou de ser assustador e se transformou na historia que eu fiz pra mim. um futuro feliz agora é muito mais fácil de imaginar.
que venha o começo do... whatever!