24.4.12

A Incrível Fabrica de eus

 esse eu que vos escreve é apenas um dos eus que constituem a minha presença integral. e não foi ele quem deu a ideia do que vou escrever aqui mas um outro, que percebeu que para cada situação criamos um eu diferente, ou melhor, que temos um eu-especialista para cada situação. meu eu psicoterapeuta vive falando em integração e é cheio de conceitos criados por teorias dos eus-acadêmicos do passado. mas um outro eu apareceu dizendo "e eu"? depois outro e outro, até que percebi serem muitos. então em minha presença se deu o processo de compreensão; o que chamamos reconhecimento, é a vontade de sermos vistos por inteiro, como o Tudo o que é.  como se o Todo fosse 3D e seus aspectos 2D, sem profundidade. como quando nos olhamos no espelho.
usamos um eu para cada situação e exigimos que os outros, também "vestidos" de um eu-especifico para a ocasião, nos reconheçam por inteiro. criamos eus desde pequenos. um eu pra mamãe, um eu pro  papai, outro pra tia da escola... mais tarde um eu-engenheiro, eu-pai, eu-empresario, eu-intelectual, eu-boa-de-cama, eu-boa-esposa e assim por diante.
inicialmente eles são criados para servir O Todo, especialmente para a sobrevivência. quando bebes fazemos barulhinhos com a boca e percebemos que isso encanta a mamãe, o que nos gera grandes benefícios. pode-se imaginar que aí começa o grande empreendimento da Incrível Fabrica de Eus para Agradar.
 falar de integração é fácil se pensarmos apenas nos conceitos de mente, corpo e alma. integrar infinitos aspectos não dá nem pra imaginar! hoje mesmo, enquanto escrevo, tem uma legião deles. são muitos e nem são todos! mas cada um deles tem em si a mesma necessidade, ser reconhecido.  os mais engajados na luta são o eu-medo, o eu-vergonha, o eu-não-sou-capaz e o eu-tristeza. esses são os caras que roubam a cena em diversas situações e sempre dão um jeito de se expressar. nessa incrível fabrica eles viraram uma especie de resíduo que acaba retornando como matéria-prima, adulterando o produto final. e assim segue, um Todo feito de doenças e incapacidades com "um toque de lavanda", que tenta desesperadamente mudar o rotulo, a embalagem e o slogan da campanha para apenas, e novamente, não ir à falência.
esse assunto dá pano pra manga, tanto que me pergunto se para cada "eu-bom" existe um resíduo.
o que poderia dizer dessa metáfora... é necessário encontrar um eu diretor para essa fabrica. um eu com a função de lembrar a todos que fazem parte de um Todo. que os reconheça pelo nome e função e saiba em que momento do processo eles são indispensáveis. para lembra-los que nessa fabrica não há resíduos pois tudo é parte de um grande processo de transformação. esse eu-diretor deve ser eleito pela maioria ou, por aqueles conscientes de que o produto final de hoje, não é o melhor que podem fazer. a integração então se dá  na aceitação das funções de cada parte. cada uma com o mesmo objetivo, Renata's Best Existence Corporate. 
 menos boring que aquela ideia de integração, "ser sempre a mesma em qualquer situação".e bem menos expectativas que alguém 2D, me reconheça.




Um conto sobre hipnose

"Certo conto oriental fala de um riquíssimo mago que tinha numerosos rebanhos de carneiros. Esse mago era muito avaro. Não queria tomar ao seu serviço pastores e não queria igualmente por cerca ao redor dos campos onde seus carneiros pastavam. Os carneiros extraviavam-se na floresta, caiam nas ravinas, perdiam-se e , acima de tudo, fugiam à aproximação do mago pois sabiam que este pretendia tirar a carne e a pele deles. E os carneiros não gostavam disso.
"Afinal o mago encontrou o remédio. Hipnotizou os carneiros e sugeriu-lhes, antes de mais nada, que eram imortais e que o fato de serem esfolados não lhes podia causar mal nenhum, ao contrario, esse tratamento era excelente para eles e até agradável; em seguida, o mago sugeriu-lhes que era um bom pastor, que gostava muito do seu rebanho, que estava pronto para qualquer sacrifício por ele; enfim, sugeriu-lhes que, se alguma coisa fosse suceder a eles, isso não aconteceria, em caso algum, agora, hoje e que por conseguinte, não tinham que se atormentar. Depois do que, o mago meteu na cabeça dos carneiros que não eram, em absoluto, carneiros; a alguns até sugeriu que eram leões, a outros, que eram águias, a outros ainda, que eram homens ou magos.
"Feito isso os carneiros não lhe causaram mais aborrecimentos nem inquietações. Não fugiam nunca mais, aguardando, ao contrario, com serenidade, o instante em que o mago os tosquiava e degolava."

Ouspensky, P.D  Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido editora pensamento.

19.4.12

papo de guru

pensando novamente naquele novo produto que criamos, viver no presente, me veio à mente os gurus, sei lá, talvez porque eu os associe com o tema.... o mundo está cheio deles atualmente e eu mesma devo confessar que já segui alguns. acontece que sempre criamos coisas para  nós mesmos superarmos. criamos algo e no mesmo instante acreditamos ser incapazes de alcançar sozinho, tamanha é a fé em si mesmo. então criamos o guru. claro que a imagem e semelhança ... de deus? não! da mente. as emoções que temos hoje são basicamente criadas por ela. a mente é uma péssima imitadora dos sentimentos da alma e para isso faz uso das memorias de infância, dramas e traumas, deixando-nos sempre infantis e fracos. sem alma! o tema viver no presente também foi criado pela mente para controlar a própria desorientação. a mente quer controlar cada dimensão de nós, corpo e alma, tentando entender "onde estamos no momento".  tão tola que perde o fascínio de viver em varias dimensões ao mesmo tempo. perde a chance de viver fora do tempo. ela diz que tal hora estaremos cansados, que tal hora sentiremos fome, que hamburger  faz mal e assim por diante. então pensamos que nunca vivemos no presente. pensar no que vai comer na hora do almoço as oito da manhã, não quer dizer que não vivemos no presente, isso é culpa! mas isso ela vai dizer também, e lá vamos nós em busca de um guru. pra alma não existe tempo! ela come hamburger no café da manhã e almoça sopa num dia de calor. a alma não tem conceitos, mas experimente dizer isso pra sua mente, loucura!
 criamos jesus, que na minha opinião hoje é mais um conceito que um homem rebelde, e da mesma forma criamos satanás. esse nunca existiu verdadeiramente, o mais próximo que conheço foi Aleister Crowley (risos). um representa a existência com a alma e o outro a vida sem ela. claro que não é o caso de Crowley que desfilava com sua alma pelo mundo para o assombro das mentes desalmadas de sua época.
adoro quando Nietzsche desvenda todo o marketing feito pela igreja para suprir a necessidade de um guru  criada na época. Ele diz mais ou menos assim: "para que o amor seja possível, deus deve ser uma pessoa; para que os instintos mais baixos possam se expandir é necessário que o deus seja jovem. para o fervor das mulheres poe-se em primeiro plano um belo santo; para o fervor dos homens, uma virgem..." "para que o bárbaro pudesse lutar contra algo sem se envergonhar e justificar seu sofrimento, criou-se o diabo". parece que nessa época o tema era  conter a excitação.
mas o que nos levou a criar a necessidade de viver no presente, qual é a roupagem do guru contemporâneo? na minha mente tola veio a imagem de um lama tibetano pra eu imitar, mas minha alma me diz que é a vontade de ser eu mesma, de estar sempre satisfeita com o que sou. de ter a flexibilidade inquebrável de um bambu que nuca perde seu centro mesmo nas maiores tempestades. o desejo de não temer meus sentimentos e sensações mas confiar neles. ela também diz  "não há ninguém que possa Ser você".

11.4.12

encontro com a essência

 é até um cliché o tanto que nós psicoterapeutas adoramos guiar nossos clientes para as experiencias do passado. mas acontece que muitas vezes o próprio cliente já associa algo atual com um acontecimento da infância sobrando para os psis apenas "tá, isso eu sei. mas como eu faço para sair disso"? muitas vezes um padrão de relacionamento é tantas vezes repetido quanto citado nas sessões e é possível ver no cliente uma aura de tédio. "não aguento mais falar disso" ou "sinto que não saio do lugar".
 a criança interior é um tema comumente encontrado nas diversas abordagens da Psicanálise e das Psicoterapias. após confrontarmos nossos pais só nos resta ir ao encontro dela para finalmente criá-la da forma que merece! a empatia que um terapeuta deve ter por um caso é justamente por essa criança e deve ter como meta mostrá-la para seu cliente. o processo terapêutico então passa a ser uma relação não-linear com a vida. trazemos o passado para ser curado, para a consciência de que hoje podemos fazer melhor por nós mesmos. um bom futuro é o passado curado. quando o cliente sair pra vida com sua criança nos braços talvez nunca mais retorne a terapia.
mas não gosto dos slogans "resgatando a criança interior". não sei, me soa meio dramático cheio de conceitos de abandono e rejeição que nos levam de volta para os pais. detesto a palavra resgate nesse contexto pois na minha experiencia pessoal compreendi que fizemos um contrato com ela. deixamos nossa criança com a função de preservar o que temos de melhor. nossos potenciais e a própria essência. ali, naquele dado momento éramos conscientes do perigo de perder tudo isso no caminho, por isso decidimos seguir sem ela. a criança interior então é a grande guardiã do maior tesouro do mundo! quem resgata quem? o adulto cansado, cheio de padrões de comportamento que corre atrás do próprio rabo? claro que não! o que combinamos foi um encontro. o encontro de duas partes igualmente comprometidas, portanto, igualmente forte e resolvida. a criança fica a espera do momento de estarmos prontos para finalmente vivencia-la. pronto significa se comprometer com ela, como ela o fez há muito tempo atrás. estar disposto a ser os "bons-pais", aqueles que a parte que seguiu não teve, mas insiste em imitar. pronto para vê-la como ninguém nunca foi capaz. a ter por ela o verdadeiro amor incondicional, não aquele cheio de condições "se você for gay eu não te aceito. se você não for bem-sucedido também não. não te criei pra isso"! e assim por diante. essa criança não teve esses pais. ela espera por você pois confia, ama e é feliz. ninguém nunca a maltratou. ela não sofre! o que chamamos sofrimento é a saudade que sentimos dela. sofremos pois nos falta algo para continuar vivendo. um sentido, uma parte. nesse processo não precisamos ter pressa pois ela é a unica parte de nós que é comprometida. ela é paciente e espera enquanto perdemos tempo odiando o passado. mas não há como pular etapas nem muito menos existe uma pilula magica. para encontrar o caminho basta saber que existe aquilo que sentimos falta. essa também deve ser nossa meta.  e quando o dia do grande encontro chegar você vai compreender que ela nunca te esqueceu, nunca te abandonou e nunca duvidou de ti! esse talvez seja um dos dias mais felizes da sua vida.  e assim adiante...

4.4.12

prevendo o próprio futuro

falei da consciência de massa, de como somos previsíveis, que sentimos os mesmos medos, a mesma prisão-de-ventre criativa e assim por diante. mas previsíveis que somos podemos antever o futuro da massa. a falta de combustível nos impossibilitará de percorrer grandes distancias devido ao alto custo. passaremos então a consumir do mercadinho da esquina, a frequentar o restaurante do bairro e a trabalhar em casa. os home-offices serão obrigatórios. já deu pra sacar que o coeficiente de tédio da humanidade vai aumentar! papel moeda e moedas serão obsoletos. os anúncios de "não aceitamos cash" substituirão os adesivos das administradoras de cartões de credito nos estabelecimentos e assim por diante...
mas se olharmos para nós como indivíduos podemos prever nosso futuro também.
aquele sábio amigo meu diz que 85% das pessoas vivem a menos de 30 milhas de onde nasceram. na mesma cidade, com as mesmas pessoas... muitas vivem na casa onde nasceram ou seja, é bem fácil prever o futuro. o que acontece é que todos nós nos queixamos de tédio e esperamos secretamente que algo aconteça e transforme nossa vida por completo. ele diz que vivemos num túnel de probabilidades e não vivenciamos nossos potenciais. por isso somos presa fácil daqueles "capazes de ler o futuro". nos distraímos nesse túnel comprando um carro novo, um ipad, pensando que estamos mudando o destino. é impossível que uma grande mudança aconteça apenas por nos arriscarmos num produto novo do supermercado. que de novo nunca tem nada! e dá-lhe tédio! a vida então se passa entre promessas e frustrações, na ilusão que o desodorante realmente tenha 24 horas de ação.  Gurdjieff diz o mesmo de outra maneira.  para o ser sem consciência o mundo simplesmente acontece. a grande mentira é pensar que fazemos, quando simplesmente reagimos.
pois é, mas o "mago" prossegue e me pede para prever minha própria vida. ele diz, "comece pelo que fez ontem e veja o seu dia de hoje como resultado, da mesma forma será capaz de prever o amanhã". ele vai mais longe e me pede para prever um mês inteiro, um ano, cinco anos. foi assustador! ele diz que probabilidades são: acordar na mesma hora, vestir as mesmas roupas, dirigir para o mesmo lugar, comer as mesmas coisas... resultando num dia igual ao outro. diz ainda que por isso nos sentimos tão cansados e acordamos pensando na hora de dormir. mas diz também que sempre temos um responsável por tudo isso. que assim é mais fácil! mas toda essa conversa começou ao contrario, "você prefere estar no mesmo lugar, esperando as mesmas mudanças, vivendo os mesmos conflitos, daqui a um ano"? Nããão!!!!!

3.4.12

para além de pai e mãe

"honrar pai e mãe".
 sou filha de pastor como Reich e Nietzsche. como eles desde a infância me pareceu muito difícil honrar esse mandamento, assim como todos os outros nove. na verdade esse mais serviu como motivo de revolta. para nós três, acredito. meu pai além de pastor era alcoolista e imagino que os pais dos meus mestres também não serviram apenas à deus.
 esse mandamento é profundamente impresso no nosso Ser. só ele desencadeia uma serie de eventos na memoria e uma imensa sensação de culpa. também nos remete a um sentimento piegas de gratidão.
no meu trabalho como acompanhante daqueles que buscam a si mesmo, esse mandamento manda!
nos aventuramos numa longa jornada até encontrarmos os verdadeiros pais, aqueles que nos deram a vida e também nos fizeram sofrer. buscamos loucamente o momento em que seremos capazes de superá-los. mas acontece que quando chegamos frente a frente com eles sentimos uma especie de crise de panico. nos perguntamos "será que era isso mesmo o que eu procurava"? "serei mesmo capaz de desistir dessa dramática auto-biografia"? pois é, para além de pai e mãe existe a liberdade. ah! como é fácil pensar que a desejamos. é como um cara que vive a vida toda na segurança de ser assalariado imaginando na sua falsa potencia que faria melhor sendo o dono da porra-toda, mas que apenas ao se aproximar de seu sonho percebe quanta responsabilidade esse feito demanda. tudo eu! pois é... para honrar pai e mãe os mandamentos são bem diferentes:
dependa de pai e mãe; deles depende sua própria existência.
distancie-se de pai e mãe;  veja-os como o são.
viva independente de pai e mãe; experimente tudo o que aprendeu com eles fazendo do seu jeito. não se iluda pensando que o que eles te ensinaram foram aquelas lições cheias de moral. na maioria das vezes o que eles nos ensinaram é justamente o que eles não nos deram.
honre seu pai e sua mãe;  pois agora você está pronto para aceitar as próprias falhas. sem sair pelo mundo achando que será  "tudo pra alguém" ou que "alguém será tudo pra você".
seja pai e mãe; para si mesmo. hummm! e aí vai reclamar de quem?
ser responsável por si mesmo é ser regido por leis universais e não mais por necessidades infantis. é prover a si mesmo e ser consciente disso. o verdadeiro livre-arbítrio é criar o próprio destino sem repetir as mesmas experiencias da infância. realmente fazer diferente! só aquele que tiver como meta ser o senhor de si mesmo, está disposto a  honrar pai e mãe.