29.2.12

lições da mãe natureza

na primavera muitos passarinhos procriam numa praça próximo a minha casa onde passeio com meus cães toda manhã. acontece que são tantos que alguns acabam fazendo seus ninhos no chão, embaixo dos arbustos. não sei a raça, nem sei se é raça que se diz, talvez seja sabiá? mas então, no inicio do verão eles fazem seus primeiros testes de voo e os que estão no chão voam bem baixinho tornando-se presa fácil para os cães e gatos da região. é comum nessa época encontrar filhotinhos mortos pelo chão.
não sei onde quero chegar com isso. mas acontece que numa dessas manhãs, lá estava papi com sua filhinha, num momento natureza bem tipico de pais separados, quando uma das minhas cadelas - a que não perdoa passarinhos pois eles comem sua comida enquanto cochila - abocanhou um desses novatos. claro que foi na frente da criança pois como todo bom cão de raça "cachorro mesmo" ela não poupa esforços para chamar atenção. havia algum tempo eu observava o comportamento desses passarinhos admirada com o desprendimento da natureza. "só os mais fortes sobrevivem" cabeça maluca a minha! e as passarinhas são ok com isso. elas sabem desse risco e que não há outro meio de viver como passarinho. acontece que o papi perdeu a oportunidade da boa lição e saiu gritando em minha direção "sua cadela é uma assassina"! eu não respondi pois não fui eu quem pegou o passarinho. mas ele continuou "mas essa cadela einh..."! pensei em explica-lo sobre as minhas observações mas logo desisti. ele tinha um conceito formado e já o estava passando à próxima geração, "o natural é inadequado" e assusta!
...minha ideia inicial para esse post era falar sobre o desejo e o sentimento de inadequação e não sei porque essa cena roubou a cena. mas agora ela me lembrou duma época que eu fazia cruzamentos de Nietzsche com Darwin. cabeça maluca a minha!
 "...toda exigência inspirada pelo instinto da vida é desprezada". enquanto Nietzsche lascava o pau na igreja em "bom-tom" Darwin o fazia com as "boas maneiras" dizendo que o instinto de solidariedade está presente em todas as especies com a função de preservação. não é exclusividade dos humanos, que como animais o transformaram num sentimento piegas, e como não o utilizamos na sua função essencial, é inadequado.


23.2.12

Consciência de massa

... não assisto TV, não leio jornal nem revistas, não uso o facebook, tampouco ouço rádio. meus amigos me chamam de alienada. antes fosse! infelizmente sei das mesmas coisas que todo mundo e nem fico entediada com frequência. indignados que ficam com minha "técnica de conhecimento" tratam logo de me por a par dos assuntos mais comentados por aí. porém muitas vezes acontece da mesma noticia me ter sido reportada antes pelo frentista do posto de gasolina, pelo manobrista do supermercado ou por um diretor de arte de alguma agencia de publicidade famosa. para minha frustração a opinião de todos é sempre a mesma. como se tudo sempre fosse um fato isolado, único, um grande acontecimento. antes fosse! ninguém abre mão da noticia mas não vejo nenhum esforço individual em perceber se aquilo realmente lhe interessa, lhe aterroriza ou lhe alegra. tudo vem prontinho e seguimos com medo da chuva, da economia e até dos germes e bactérias, os inimigos invisíveis! divirto-me quando vejo as propagandas de inseticidas para as mamães executivas protegerem seus filhinhos limpando a casa rapidinho com um produto bacaninha que as livra da culpa de não estarem presente na educação dos seus queridinhos. como pudemos sobreviver tanto tempo com esses inimigos a solta? sem falar nos laxantes que prometem até o marido ideal. do cocô para o homem dos sonhos em 30 segundos, genial! e vende.
 Isso é a força da consciência de massa e  não se resume apenas a mídia mas devemos concordar que ela oferece tudo o que a maioria está querendo no momento pois ainda é muito fácil prever a reação de todos. importante notar que não é a mídia que nos influencia mas nós que criamos todo o conteúdo dela. quando tivermos a consciência de si ela deixa de existir.
portanto sigo no meu esforço individual voluntario e percebo que cada vez mais as palavras "isso não importa" fazem sentido, e assim continuo aprendendo a escolher dentre todas as coisas apenas aquilo que me interessa no momento. confesso que a noticia é muito mais interessante "atrasada", quando a maioria já é capaz de rir dela. ou de si mesmo?

18.2.12

O que é consciência afinal

Vivo falando aqui sobre consciência e escolha consciente (bem mais fácil falar!), mas o que é consciência afinal? Vou pedir que Ouspensky nos explique.
"Na linguagem comum, a palavra "consciência" é quase sempre empregada como equivalente da palavra "inteligencia", no sentido de atividade mental."
"Na realidade, a consciência no homem é uma especie muito particular de "tomada de conhecimento interior" independente de sua atividade mental - é antes de tudo, uma tomada de conhecimento de si mesmo, conhecimento de quem ele é, de onde está e , a seguir, conhecimento do que sabe, do que não sabe, e assim por diante".
"... a consciência no homem jamais é permanente, ..."  "Ela está presente ou ausente. Os momentos de consciência mais elevados criam memoria. Os outros momentos, o homem simplesmente os esquece. É justamente isso que lhe dá, mais que qualquer outra coisa, a ilusão de consciência contínua ou de "percepção de si" contínua".*

* P.D.Ouspensky, Psicologia da Evolução Possível ao Homem. Editora Pensamento



15.2.12

zzzzzzzzzzzzz

...e falando de sono aquele sábio amigo me disse esse dias "você deve criar um espaço seguro pra si". vindo dele é óbvio que eu não esperava que fosse algo como um quarto branco, um bunker ou qualquer outro lugar físico. tampouco é o tipo dele fazer profecias especulatórias sobre acontecimentos catastróficos de qualquer ordem. "muitas pessoas não dormem ou se o fazem, acordam cansadas. elas não têm um lugar seguro para descansar e rejuvenescer" opa! ele disse rejuvenescer? minha atenção dobrou. Sempre irreverente ele continuou "dormir é diferente de sonhar". Então ele me explicou que os sonhos são (a maioria deles pelo menos), uma extensão do nosso dia-a-dia, que levamos os problemas não resolvidos para outra dimensão de nós mesmos em busca de solução, portanto a atividade mental continua. "apenas duas horas de sono profundo, ininterruptas, non-mental, são suficientes para o descanso do corpo" disse com uma convicção assustadora. "vocês não têm muitos lugares seguros na vida. onde quer que vá tem esses alarmes de segurança sempre ligados" pegou, falou e disse! e não parou por aí. Disse que nos privamos do sono pois num estado de cansaço nossas resistências enfraquecem nos permitindo alcançar conceitos mais sutis. coisas que a mente alerta não aceita.
"é uma questão de qualidade, não de quantidade".
Ele acredita que nossa mente criou toda essa historia de 8 horas ou mais de sono. e quantas vezes me privei de permanecer acordada produzindo para dormir só porque o relógio me disse que era tarde!
Quando deito para dormir passeio por todas as coisas que realizei no dia. percebo tudo o que fiz. me dou uma estrelinha e zzzzzzzzzzzzzz. Não trago o amanhã para o hoje a noite só pra me aborrecer.
Sobre o safe-space continuo outra hora...bom descanso!




8.2.12

um continuum

desejo pra mim uma vida fluida, um continuum de experiencias conscientes, sem highs and lows, uma vida sensual dessas onde a tristeza, a loucura, a alegria e o prazer tenham lugar. Degustar a vida mesmo! Desejo estar sempre pronta para os papéis que devo interpretar, os personagens que devo incorporar. É isso! a vida nos exige uma pitada de esquizofrenia, um esquizofrênico com ego, um ego flexível, multilayer.
Baixei a filmografia do Woody Allen, estou obcecada falo pra todo mundo. ah! como é boa essa nova era!
Mas o que mais me encanta nos seus filmes é que não importa o cenário, Paris, Londres, New York, nem os atores hypados. não importa! a protagonista é sempre a neurose. mesmo num cenário de guerra ele nunca enfatiza a pobreza ou a falta de recursos de qualquer ordem. Como um maestro ele passeia na vida como quem diz "na neurose somos livres" . Mas é realmente na neurose que nos diferenciamos. é genial! e a vida segue.
Como nos contos de fadas, nos originais não naqueles onde a bruxa tem o mesmo super-ego da princesa, mas nos que a estoria não termina, onde existe o mal pois assim é na vida, ele simplesmente retrata, meio reality, algo que pode estar acontecendo na vida de qualquer um. Como num continuum, não tem começo nem fim...
e por isso é uma delicia de ver.

7.2.12

onde aprendemos a viver

"sinto que não vivo no presente" ele diz meio filosofando.  "o presente é essa angustia que você está vivendo", afirmo. "mas todos os meus projetos..."  e lá vamos nós de volta para o futuro. "mas essa angustia é a razão de você não querer viver no presente",  reafirmo esforçando-me para não parecer o mestre dos magos. "mas então como faço?"ele pergunta irritado deixando claro que não era exatamente essa a visão de presente que venderam pra ele. "quem nos ensina que devemos aprender a viver sozinho"? perguntei a  mim mesma.
E digo mais! que no presente você está sempre sozinho, é um tédio e você é a unica pessoa que pode fazer algo para mudar isso.Ui! Dá muito trabalho viver no presente por isso o tempo todo nos entretemos passeando pelas experiencias passadas e futuras. Sim, experiencias futuras! Somos tão geniais que podemos viver apenas das imagens que criamos e mais ainda porque nelas não incluímos agustias nem aflições. Mas lá no presente, ou aqui? já me perdi, fica a soma das frustrações de toda essa criação. Quando a soma é um numero elevado ou nulo, - como já falei na minha teoria da inercia que acabo de roubar do Newton mas ele já morreu nem vai saber - nossa presença é exigida no presente para resolver. - hoje eu to irritante! -  E assim criamos mais um produto, "O Presente".
Pensadores como Gurdjieff, Ouspensky, Reich e Steiner criaram filosofias de vida e de educação que nos ensinam a olhar para nós mesmos como indivíduos, como o "tudo o que é". Diferente de olhar para um grupo e tentar  se descobrir. Em teoria funciona mais ou menos assim. Você pega um humano que vive em estado de sonolência, hipnose, amortecimento, ou qualquer outro termo que defina alguém de posse de quase nada de si mesmo. mas não sabe disso! Limpa toda a porcaria resultante de crenças religiosas, emocionais e ancestrais até que ele perceba que é um Ser Único. A partir daí esse já está ciente de suas angustias e das que não lhe pertencem. Depois está pronto para entender que sua existência é atemporal, que cada ser tem uma medida própria de tempo. e ele vai entender! Que a consciência de si aumenta em cada experiencia e quanto mais consciente mais presente ele será. Que suas experiencias também são atemporais pois delas ele é feito, não expiram nunca e podem ser acessadas sempre que necessário. Depois ele compreende que suas experiencias são feitas de escolhas e essas são feitas a partir do tudo o que é.
 Um longo caminho mas no final tem "O Presente" de presente. Um presente que tem passado e futuro acontecendo simultaneamente. A angustia de não pertencer desaparece pois só há um lugar de origem e destino, o próprio Ser.

1.2.12

é bom mas é um saco!

Há alguns anos atrás li num dos livros do Lobsang Rampa uma critica que ele fazia sobre o desejo de viajar e conhecer outros lugares. Algo do tipo "aquilo que nos chama atenção é sempre aquilo que estamos buscando internamente e pode ser encontrado logo alí".
 Já faz algum tempo que me dei conta que viajar realmente cansa e tudo depende mesmo é do nosso humor além de haverem viagens de diversos tipos, de negócios, de lua-de-mel, do tipo lonely planet, de turismo da terceira idade (tipo cruzeiro mesmo) e por aí vai. Já estive em paraísos naturais vivendo um inferno dentro de mim a ponto de pedir perdão pra deus por estar tão triste e confusa onde ele mais caprichou.
Mas lá estava eu na semana passada embarcando no navio negreiro (classe econômica) na fileira do meio, literalmente no meio, não sei se tem lugar pior! me preparando para cruzar um oceano quando percebi que meu vizinho aguardava ansioso a comissaria de bordo,
aéreo-velha como diria o outro, para pedir um copo d´água e engolir aquilo que ele dizia, o levaria à wonderland.  Brinquei com ele dizendo que então eu seria a enfermeira pois lá estava eu entre dois que se drogariam para enfrentar a viagem. Porra, vou ficar careta! O maluco do lado esquerdo tomaria um básico Rivotril, medicamento hoje receitado até por dentistas. O do lado direito estava munido de Stilnox e dois Diazepans, meu deus! finalmente conseguiu engolir as pilulas e ficamos esperando o efeito.Solidário que era, me ofereceu um dizendo que tinha "O plano B", caraca! Então começou a me contar a sua vida...aquele papo de avião, qual o seu destino? o que espera do seu destino? etc. Acontece que ele é fotografo e diretor de documentários e viaja o mundo todo. disse que sente "uma coisa" em aeroportos e aviões, ou seja, se droga bastante! acredito que esse cidadão seja incapaz de dormir naturalmente. A droga começou a bater e logo veio o arrependimento, balbuciando ele me dizia que dificilmente encontrava alguém interessante nos voos e se esforçava bastante para ficar acordado. Sua cabeça pendia para frente e eu solidaria empurrava para trás pela testa, então ele acordava e continuava a conversa.Chegou até a dizer que me compraria um presente pelos cuidados. Uma de suas perguntas embriagadas foi "qual o seu sonho?", não sei se veio de wonderland, ou de uma síntese daquelas que só um louco é capaz de fazer, para saber se nós realmente tínhamos algo em comum. Primeiramente respondi que não tinha nem um, não desse tipo casa própria, iates, champagne, dinheiro... ele dormiu... e eu na minha caretice tive tempo para pensar. Bum! Já sei qual é o meu sonho, nunca gostei desse lance de sonhos pois parece que fica sempre em outra dimensão, mas então descobri que tenho um desejo, e quando olhei pro lado ele havia partido novamente. Aproveitei então a situação para dizer meu desejo em voz alta, pra mim mesma e sei lá mais quem ... dizem que as pessoas em coma ouvem mas não importa, foi muito bom ter dito e a situação do meu vizinho me rendeu boas risadas.
De qualquer forma, viajar cansa pra caramba, não tem nenhum glamour viajar de econômica além do que, quanto mais velho ficamos menos as coisas nos impressionam. Sempre  digo que o melhor lugar do mundo é a minha casa. Adoro voltar pra ela, receber meus amigos nela, além de  tomar café-da-manhã com Gurdjieff, vinho com Woody Allen e assim por diante...