30.3.12

Mulher-Fêmea

venho trabalhando há algum tempo no tema do meu próprio feminino pois também estive ocupando outro lugar. há muito tempo encontrei conforto nos escritos de Clarissa Pinkola Estés que foi buscar nas raízes dos contos a origem dos arquétipos femininos mais fortes em nosso inconsciente. nessas leituras ficou claro pra mim que perdemos algo muito importante para nosso desenvolvimento como Ser. a ausência de ritos de passagem nos fez seguir aos trancos e barrancos pela vida agarrando o primeiro papel que aparecesse, como atrizes esfomeadas. hoje, nós mulheres não sabemos diferenciar personalidade de emoção, de hormônios. fica difícil perceber quando uma mudança realmente será permanente como algo na evolução pessoal, ou se é apenas uma mudança de temperamento. conhecemos esses fenômenos apenas na superfície e o chamamos de TPM. mas as impressões que tenho de mim mesma vão bem além disso; vão fundo naquele lago profundo onde residem os mistérios de ser mulher. um tempero ora azedo, ora amargo, ora doce, ora suave, ora picante... ser mulher é uma arte! como tal nunca alcança a perfeição pois é infinita. para amar ser mulher devemos aceitar cada aspecto desse gênero. a instabilidade, a inquietude, a criança, a velha, a mãe, a louca, a amiga, a que ama e odeia na mesma intensidade, o perigo e a sensatez. cada um desses aspectos exerce sua força particular por toda a nossa existência desde o nascimento. mas não aceitamos que somos tudo ao mesmo tempo!
diria então que TPM é o tempero próprio de mulher. não se resume apenas ao ciclo menstrual mas a todas as possibilidades que existem dentro de nós. amar a si mesma hoje leva tempo. primeiramente devemos reconhecer todos os aspectos de que somos feitas. amá-los um por um a medida que surgem na consciência. isso pode levar toda uma existência devido a falta dos rituais. não aprendemos a amar a criança que deixamos ao menstruar. não aprendemos a amar a adolescente inundada por sensações para depois amar a calmaria da jovem desposada. depois a mãe e a entrega a uma nova família, a avó, a velha e a sábia. se assim fosse, seria mais fácil lidar com os hormônios hoje. não existiriam frigidas, câncer de ovário nem de mama, menopausa precoce e assim por diante. compreenderíamos que justamente nos mil aspectos da mulher reside sua força e sua beleza. honraríamos nossos pais, maridos e filhos. compreenderíamos porque mexer com a  Mãe Natureza nos toca tanto...e assim infinitamente



26.3.12

vida após a paixão

... plagiando a Cher que diz "do you believe in life after love"? finalmente compreendi porque muitos poetas dizem que a paixão é uma especie de loucura. a paixão nos monta um cenário tão fantástico que parece até  real. nesse cenário atuamos com a alegria de finalmente termos encontrado algo que valha a pena viver. algo  que valha ser uma pessoa melhor. todos aqueles potenciais antes confinados à espera do "momento certo" aparecem por detrás das cortinas. toda a existência ganha um tom de drama com direito a veneno e tudo. ah! a angustia. o que seria da paixão sem esse veneno. a ressaca desse veneno é a ansiedade, mais conhecida como medo em baixa frequência. medo de perder a angustia pois se essa se for leva junto a paixão e todo o espetáculo perde o seu encanto. claro que a paixão é uma loucura! nela perdemos a identidade. tive muitas paixões e delas sai sempre sofrendo os efeitos colaterais. depressão, tédio, muito apetite, pouco apetite, ou seja, bem menos amor por mim mesma. se nessa época a Cher me fizesse aquela pergunta eu diria que a vida após a paixão deixa graves sequelas. mas hoje sei que ainda que me aventurasse por esses caminhos fantásticos o faria deixando pegadas que sinalizariam o caminho de volta a mim mesma. como numa viagem de LSD conduzida por Timothy Leary, veria todos os meus atributos elevados a altas frequências e ao retornar compreenderia, quão miserável seria a existência se abrisse mão deles. daí então valeria a pena essa experiencia pois dela sairia mais sexy, mais afetuosa, mais confiante...uma pessoa melhor pra mim mesma.
mas sinto pena daqueles que nunca retornam.

24.3.12

porque a morte não pode existir?

resolvi escrever sobre a morte pois ela faz parte da vida. resolvi escrever sobre a morte num esforço voluntario de incluí-la na minha vida. a morte está sempre presente mas nunca nos damos conta dela. talvez por não "darmos conta dela". percebo que não sabemos como encaixar na vida aqueles que já se foram, como se todas as experiencias vividas juntos tivessem que ser descartadas. é um grande sofrimento que demanda muito esforço, e dessa forma a morte se faz sempre presente. por isso resolvi homenageá-la aqui. homenageá-la pois ela é a unica certeza que temos desde o nascimento. pois é ela que nos dá a intensidade e o colorido necessários para existir. não há como lutar contra a morte pois ela é inevitável, assim como não lutamos contra a vida ao nascermos. dois fenômenos sublimes da existência. sublimes por serem os dois momentos onde estamos de total posse de si mesmo.espiritualizados! o que acontece entre esses dois pontos chamamos de experiencia. para todos e cada um nesse planeta o fenômeno é o mesmo. para você e pra mim, para o seu pai, seu cão, uma arvore e assim por diante. é uma lei ! como pode então, nos pegar de surpresa mesmo quando a esperamos? no movimento da vida pulsamos em busca de um contato com aquilo que nos preenche de sentido, com a alma. com o sentido entre os dois pontos. a morte nos dá essa oportunidade de reconexão. a mente o corpo e o espirito religam-se quando vivemos uma perda. tudo o que um dia existiu muda de forma, de cor, de sabor. a morte nos penetra nas entranhas e acessa todas as dimensões de nós mesmos num movimento involuntário de entrega. ela nos traz de volta aquela força perdida. nos expande e eleva a vida à um outro nível de existência. nos transforma. quando vivemos essa transformação percebemos que "todo o mundo" acontece bem aqui, não há esforço. nos libertamos. resolvi incluir a morte na minha vida pois ela, e apenas ela, me faz olhar para o outro e compreender, no sentido mais profundo da palavra, que todo e cada Ser é igual a mim.

21.3.12

sincronicidade na constelação

 hoje entrei no blog para ver se me inspirava e dei de cara com o titulo da ultima postagem. justamente o assunto abordado durante o final de semana inteiro num workshop sobre Constelações Familiares, com o grande mestre do assunto. compreendi muitas coisas no que diz respeito a "ocupar o lugar errado" e isso só foi possível porque vi com meus próprios olhos e senti na pele outras vezes, como sofremos com isso. o tema era o masculino e o feminino e porque não fluímos nesses papeis. Frank justificou essa dificuldade por sermos "as filhas do pai" e os homens "os filhos da mãe". a tradução nos rendeu boas risadas nesses dias. risadas nervosas eu diria, pois cada um ali se identificou com isso. funciona mais ou menos assim : quando ainda muito pequenos, num evento de separação ou quando o casamento não vai bem ou "etc", acabamos ocupando o lugar de um dos cônjuges e daí então as posições são trocadas. a menina que toma o lugar da mãe acaba como "a esposa do pai"  ou o homem "o marido da mãe". acontece que nesse lugar sempre ficamos sem um dos pais. toda a dinâmica natural da família é prejudicada. todos sofrem! os homens que ficam com as mães tornam-se femininos criando uma aversão "secreta" ao feminino. o mesmo acontece com as mulheres. então esses saem pra vida em busca de seus opostos. a fêmea masculinizada procura um homem feminino e vice-versa. e logo no inicio aparece a velha queixa "ele é meio frouxo" ou "essa mulher é um macho" e o relacionamento vai por água abaixo. também se identificou? então deve estar se perguntando o que fazer.  o caminho é o mesmo para todos. derrubar aquelas velhas crenças impressas no seu Ser de que para ser um bom homem você deve ser diferente do seu pai. aquela que sua mãe lhe passou e que vive bem forte dentro de ti "não seja como teu pai" e o mesmo para as mulheres que sacrificaram o próprio feminino em prol do "não posso acabar como ela". parece contraditório às minhas ideias anteriores, mas não é! um homem que queira superar o pai só o fará quando retornar à posição de homem. a mulher que acredita que pode ser feliz encontrará a felicidade apenas quando aceitar o seu feminino. "sem querer" ele respondeu a minha pergunta do ultimo post "os relacionamentos que têm grande chance de dar certo são aqueles onde as filhas-da-mãe encontram os filhos-do-pai" e aí então a woman be a woman and a man be a man.

www.frank-gallenmueller.de

14.3.12

when a woman be a woman

há algum tempo venho percebendo um desconforto da classe masculina hetero com relação a homossexualidade. "tenho medo de descobrir que sou gay" ou "será que as pessoas pensam que sou gay"? em sua maioria, pais de 30 a 50 anos que após a separação experimentam sua segunda "solteirice", quando não a terceira. tenho uma tese secreta ainda em avaliação, de que os homens são mais femininos enquanto entre eles, num grupo "homogênero". a presença de uma unica mulher já os coloca em outra posição. infelizmente hoje essa posição é de disputa por poder. esse campo de disputa antes era criado justamente nos grupos "homogêneros" e o descanso encontrado no colo do sexo oposto. 
 acontece que enquanto os observo sinto uma certa inveja do prazer que têm entre os seus semelhantes. estou falando de heteros! e confesso que me irrito, intrigada que fico, quando concluo que para nós mulheres sobrou apenas a reprodução. humm! que lugar conhecido. tantas voltas, desde os anos 20 para chegar até aqui? vivo dizendo para minhas clientes que devemos reconquistar o lugar do feminino. que estamos ocupando o lugar errado e deixando o nosso vago! meio feminista ao contrario. mas quando ainda o ocupávamos os homens podiam se maquiar, usar calças justas, roupas floridas e serem sexy. ninguém se questionava! todo mundo podia votar, usar calças and make the money ... todo o mundo fazia amor. eita porra! que bom que era essa igualdade!

e para não ficar no desamparo, hoje os homens estão experimentando esse lugar vago do feminino, meio assustados, entre eles, mas descobrindo a sensibilidade e o amor em si mesmos. cuidando dos filhos, da casa, ganhando a guarda dos filhos na justiça e assim por diante. as mulheres machistas que se cuidem! do jeito que andam as coisas os homens  ocuparão o lugar da mulher. e pior! farão ainda melhor.

 o que houve com o "when a woman be a woman and a man be a man..."?




9.3.12

O Homem Irracional

adorava dizer que devíamos aprender a viver em sociedade observando os animais e isso gerava enormes discussões com um namorado biólogo que tive há algum tempo atrás. adorava discussões! eu defendia a "tese" de que as chacinas, guerras e qualquer outra forma de destruição em massa nada mais são que a seleção natural. mas ele não era darwinista. nem eu! pelo menos não era assim que me intitulava. ele defendia que os humanos são superiores pois raciocinam, que estão além das leis da natureza. defendia também que eu era louca. você deve estar rindo pensando no seu colega de trabalho que justamente por não raciocinar, te dá tanto trabalho. e eu te digo, ele deve ser superior! mas era isso o que ele defendia e pronto. que as chacinas são uma questão cultural. o que dá na mesma. mas eu ainda penso que podemos tirar proveito do melhor de cada especie na questão "cultural". Gurdjieff  muito influenciado pela filosofia oriental, oriental que era, meio lá meio cá na Russia de sua época, percebeu que não existe especie nenhuma no planeta que se destrua mutuamente, na verdade ele dizia no Universo. claro que numa briga por uma fêmea ou território algum macho que não se submeta possa morrer pela "honra", mas se não morrer ele não volta lá com uma gang, hipnotizada por suas questões pessoais, para destruir toda uma especie.
na lei da natureza existem os predadores e tudo isso faz parte de um ecossistema que se auto-regula, inteligente que é. e nem raciocina! o homem acreditou não ter predadores e não se deu conta que o seu maior inimigo são suas próprias criações. as armas de fogo não foram criadas para matar leões, mesmo porque os leões nunca foram inimigos a altura de um "ser humano que raciocina".
mas onde será que esse ex-namorado viu tanta gente que raciocina? feliz ele e pobre de mim que só vejo gente que imita. imita os pais que imitaram os pais, que imitaram os pais e assim por diante. opa, diante não!
aquele sábio amigo sempre me diz, "vocês fazem sempre a mesma coisa esperando resultados diferentes. isso sim é loucura"! pobre de mim que desisti da biologia para estudar a parte irracional do animal que raciocina.

6.3.12

Ensaiando a vida

"a vida parece um ensaio", refleti enquanto esperava minha mesa num restaurante. foi numa hora em que a maioria dos seres ordinários almoçam. sou um ser que almoça as onze e meia. e lá estava eu sofrendo de fome, passado o meu horário ordinário, esperando para sentar, ser empurrada no buffet para depois encarar a imensa fila do caixa. tudo previsto! acontece que adoro ouvir as conversas dos outros e o faço de forma natural. posso estar conversando contigo aqui mas ouvindo a conversa ali e você nem vai perceber. há quem diga que isso é coisa de mulher. se é eu não sei! mas faço, e faço bem. até crio historias para cada personagem, tipo "ele gosta dela mas pensa que o amigo da baia ao lado é mais atraente que ele" ou "como essa vaca comprou aquela bolsa se o salario dela é igual ao meu? deve ter dado pro chefe", e por aí vai. confesso que tenho uma fantasia de um dia perguntar para as pessoas se minhas observações conferem. mas naquele dia, enquanto ouvia conversas de diversos grupos "diferentes" percebi que todos falavam de projetos. a palavra projeto é a ultima moda! se eu tivesse o carro tal... vou guardar dinheiro para ir não sei pra onde e vai ser maravilhoso... quando emagrecer vou usar aquele shortinho e aí... se o projeto da empresa for aprovado, imagina... meu projeto é...
todo mundo ensaiando os próximos passos. e enquanto nada acontece... nada acontece!
gastamos muita energia nesses projetos. tanta que até parece que a vida em algum momento será um grande espetáculo.
e se for, ta tudo no script.