8.1.13

Édipo ou Cleópatra?

outro dia estava fofocando no telefone com uma amiga, sobre um amigo nosso. acontece que nós três formamos uma especie de tríade edípica para o bem ou para o mal-estar desse cidadão. ele é judeu, ela é lésbica e como ele mesmo costuma dizer, "judeu tem duas mães" - justificando que sua independência está a pelo menos o dobro da distancia, comparado a outros seres de cultura ordinária. sendo assim, formamos pra ele a tríade perfeita, mais pra threesome que outra coisa. por outro lado, pra não deixar "baratinha" e justificar essa porra toda, demos a ele o apelido de Sarah,  meio que resumindo todas as tias judias que existem dentro dele.
ele é do tipo que foi pego pela mãe e com muito esforço segue sua existência de forma quase independente. mas acontece que justamente por esse motivo o mundo todo lhe parece muito mais rico em detalhes que para qualquer outro homem, não pego pela mãe. ele adora fofocar, tarot, compras pela internet, entre outras coisas. e não é gay! isso é o que só uma mãe pra lá de boa demais pode fazer.
eu e minha amiga trabalhamos em dupla. em turnos, para o bem da verdade. ela é mais brava e ele obedece, eu sou aquela que busco em casa e espero 15 minutos na porta.
mas então, nesse dia estava atualizando-a das ultimas novidades do nosso rebento que, por alguma brincadeira karmica, nasceu anos antes de nós. fofoquei, aquela fofoca de mãe preocupada, que ele havia especulado se sua grande dificuldade em lidar com questões emocionais, não viriam de uma vida passada. na maioria das vezes sou a mãe mais compreensiva, a terapeuta, sabe comé? mas nesse dia acho que ele me pegou desprevenida. fiquei surpresa com a manobra e disse, chega! pude ver nos olhos dele que o assustei.
mas enquanto fofocávamos fofocas boas, especulamos os possíveis papeis que nossa querida Sarah atuou nas vidas passadas e concluímos, aos risos, que como num cliché fetichento, ele devia ter sido Cleópatra.
e quem não quer ser Cleópatra!





5.1.13

hasta la vista, Édipo!

  ano 1991. impressionada com os músculos de Sarah Connor do Exterminador do Futuro 2, o Juízo Final, disse, "é isso! quero ser como ela". foi um alivio, pois finalmente aos 17, havia  encontrado um modelo de mulher que se encaixava perfeitamente na dimensão da minha angustia. me tornei meu próprio treinador militar e logo estava forte e musculosa como ela. assim fui por muito tempo e o esporte se tornou uma nova compulsão, tão nociva como as outras que já havia experimentado.

 ano 2012, dias antes do fim dos tempos. alguma experiencia desencadeou na minha mente maluca uma serie de lembranças daquela garota, então resolvi assistir ao filme, o que me levou de volta para 1991.
essa que vos escreve passou por muitas experiencias desde então, inclusive a de se tornar psicoterapeuta. assim sendo, devo confessar que voltei ao passado para me analisar. para minha surpresa eu não havia me identificado apenas com aquela fêmea bélica que luta sozinha contra todos, mas com um aspecto de cada um. com o filho ameaçado de ser aniquilado e também com a maquina de matar, que não mata! como num combo edípico, circulei por todos os personagens para resultar numa identificação perfeita com Sarah.  até aqui eu ainda não tinha nem começado a ver o filme e o vovô Freud já atormentava minha cabeça com suas teorias.
  logo no começo do filme vem a frase do futuro - não me lembro que ano era, mas já não parece tão longínquo como antes - "the future is not set. there is no fate but what we made for ourselves" jesus christ, alleluia! se o meu futuro estivesse acertado naquele momento com certeza eu estaria num passado longínquo, exterminada da silva. 
depois aparece o exterminador peladinho, do jeitinho que viemos ao mundo, porém adulto e com um proposito bem programado. ele encontra o seu target,  e o garoto surpreso pergunta quem o enviou para salvá-lo. então ele responde, "você, 35 anos no futuro". dez minutos de filme e eu já tinha todos os ingredientes para processar no meu malucador-maluco.
 primeiro a surpresa com o tamanho do ódio que aquela garota sentia. depois a compreensão de que ele vinha do medo de ser aniquilada , tão grande que a fez construir uma armadura para a luta e ela mesma haveria de se tornar uma maquina de imitar sentimentos. e ainda, que aquela decisão definia o seu destino, tudo era muito sério e parecia eterno.

o mito de Édipo fala sobre destino. do destino inevitável entre pai e filho, o que se aplica igualmente as mães e filhas. a fase edípica tem inicio dos 3 pra 4 anos e segue pela vida se reeditando cada vez que nos encontramos em tríades que nos remetem a origem papai, mamãe e filhinho.  me arrisco a dizer que cada vez que nos vemos em situações onde um homem e uma mulher são figuras de autoridade, esse conflito é desencadeado (aquilo que seu terapeuta chama de padrão). mas é na adolescência sua principal reedição, quando devemos definir o modelo a seguir. o dia do juízo final! ninguém está livre da predição e seguimos matando nossas figuras de identificação ou o mundo todo, no meu caso.

back in 2012.  respiro aliviada, pois  21 anos no futuro pude dizer para aquela garota bélica que não havia nenhum destino acertado naquele momento. eu não fui aniquilada e, por pouco, não virei maquina. nós sobrevivemos!
 ... apesar desse futuro estar cheio de maquinas que imitam sentimentos.
I'll be back.





2.1.13

somos os caras do futuro

profecias a parte, mas e se for mesmo o começo de uma nova era?  e se a felicidade puder ser real. e se pudermos transitar sem preocupações, sem bagagens. e se viver se transformasse num prazer. e se pudermos viver sem duvidas e sem medo, como num playground ... e se finalmente nos tornarmos capazes de amar a si mesmo.  não seria tudo isso o fim do mundo? não seria isso o fim daquele mundo enfadonho que vivemos vida após vida? não seriamos nós os caras do futuro?

outro dia uma grande amiga exausta de tanto viver disse, "para esse trem que eu quero descer!" eu disse,"então pegue o trem de volta" e isso soou assustador até pra mim. mas só a metáfora do trem já é bastante angustiante. andar num trilho me deu a sensação de ir  apenas numa direção. pra frente, sempre! quando num trem quase não sentimos as curvas e  a experiencia parece um sanduíche sem recheio, origem-destino. a vida que segue apenas pra frente além de ser uma ilusão é um desperdício de criatividade. ilusão porque o tempo todo somos tudo ao mesmo tempo, e nada, nem uma paisagem é estática;  falta de criatividade porque não existe veiculo nenhum, além da consciência humana, que nos leve simultaneamente para diversos lugares e dimensões. lá no passado existe também a vontade de ser feliz e como tudo o que é, não é estática, melhor ainda, pode estar na sua forma mais pura.

isso me lembrou uma experiencia que tive há alguns anos atrás. não sei se já contei isso aqui...
de repente cenas da minha vida se passaram na minha mente como num filme. muitas cenas e tão rápido que fugiam ao controle da razão.  em todas elas o eu atual estava como observador. uma presença amorosa, que guardava como um anjo aqueles muitos eus das cenas. eu devia ter 36 anos naquele momento. foi intenso, tanto que pensei "deve ser isso o que as pessoas sentem quando vão morrer". daí BUM! eu fui meu próprio anjo-da-guarda até aqui! e agora? não, não era a morte me chamando, mas sim a vida me dizendo "você está exatamente onde havia imaginado e agora um outro eu, ainda maior, será seu guia".
e tudo no meu passado foi transformado. percebi que nunca estive só e nunca mais estarei. ir para o passado deixou de ser assustador e se transformou na historia que eu fiz pra mim. um futuro feliz agora é muito mais fácil de imaginar.
que venha o começo do... whatever!