27.7.12

papo de salão

- sou contra a retirada dos uniformes nas escolas. acho que todo mundo deveria ser igual! bradou a senhora pra lá de meia idade que os dedos grossos não escondiam as muitas louças e uniformes que lavou. dedos de mãe boa demais, sabe comé?
- eles vestem as roupas que querem e depois sofrem bullying. completou, esbanjando conhecimento.
- hoje vou depilar minhas pernas! foi o que a filha da profissional disse ao chegar em casa da escola, após ter sua saia plissada do uniforme levantada por um dos coleguinhas.
-eu odiava saia plissada! mesmo no frio tínhamos que usar, era uma exigência das freiras. comentou a empresaria de corpanzil e vestidinho. e completa:
-até na educação física era saia plissada branca...
- mas com o shortinho por baixo!! bradaram todas em uníssono, como se o shortinho de baixo fosse uma proteção à santa castidade.
intrigada e louca para participar perguntei: 
- mas num colégio apenas para mulheres, quem as meninas haveriam de provocar?
a atmosfera pesou. na minha cabeça, e acredito que na delas também, passavam cenas de freiras pervertidas à la Almodóvar.
mas acontece que sempre odiei uniformes. passei anos da minha vida enfiada num cor-de-beterraba desfilando a moral e os bons costumes de um colégio bacaninha da cidade. eu e mais de dez mil criaturas que passaram por lá. penso se todos eles foram traumatizados como eu. sempre fui miúda, magrela, sem peito, sem nada. nem o cabelo eu podia esbanjar. era uma beterraba como outra qualquer. 
arrancar uma das listras brancas da calça do uniforme era uma rebeldia. se tirasse as duas então, era um ato considerado punk. uma beterraba punk! para mim, na minha adolescência, ter que usar uniforme era bullying institucional!
todo esse trauma resultou no meu ser um verdadeiro pavor ao comum, ao igual. uniforme pra mim é um insulto a individualidade, algo que diz mais sobre você, do que você mesmo. agora imagine a igualdade cor-de-beterraba. entendeu agora?


fofoca de salão:
 claro que a senhora anti-bullying esmaltou suas vinte unhas com um branquinho virginal. imagina se ela usaria o escarlate "cansei de ser santa" ou o ousado "beijinho no escuro".

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