11.4.12

encontro com a essência

 é até um cliché o tanto que nós psicoterapeutas adoramos guiar nossos clientes para as experiencias do passado. mas acontece que muitas vezes o próprio cliente já associa algo atual com um acontecimento da infância sobrando para os psis apenas "tá, isso eu sei. mas como eu faço para sair disso"? muitas vezes um padrão de relacionamento é tantas vezes repetido quanto citado nas sessões e é possível ver no cliente uma aura de tédio. "não aguento mais falar disso" ou "sinto que não saio do lugar".
 a criança interior é um tema comumente encontrado nas diversas abordagens da Psicanálise e das Psicoterapias. após confrontarmos nossos pais só nos resta ir ao encontro dela para finalmente criá-la da forma que merece! a empatia que um terapeuta deve ter por um caso é justamente por essa criança e deve ter como meta mostrá-la para seu cliente. o processo terapêutico então passa a ser uma relação não-linear com a vida. trazemos o passado para ser curado, para a consciência de que hoje podemos fazer melhor por nós mesmos. um bom futuro é o passado curado. quando o cliente sair pra vida com sua criança nos braços talvez nunca mais retorne a terapia.
mas não gosto dos slogans "resgatando a criança interior". não sei, me soa meio dramático cheio de conceitos de abandono e rejeição que nos levam de volta para os pais. detesto a palavra resgate nesse contexto pois na minha experiencia pessoal compreendi que fizemos um contrato com ela. deixamos nossa criança com a função de preservar o que temos de melhor. nossos potenciais e a própria essência. ali, naquele dado momento éramos conscientes do perigo de perder tudo isso no caminho, por isso decidimos seguir sem ela. a criança interior então é a grande guardiã do maior tesouro do mundo! quem resgata quem? o adulto cansado, cheio de padrões de comportamento que corre atrás do próprio rabo? claro que não! o que combinamos foi um encontro. o encontro de duas partes igualmente comprometidas, portanto, igualmente forte e resolvida. a criança fica a espera do momento de estarmos prontos para finalmente vivencia-la. pronto significa se comprometer com ela, como ela o fez há muito tempo atrás. estar disposto a ser os "bons-pais", aqueles que a parte que seguiu não teve, mas insiste em imitar. pronto para vê-la como ninguém nunca foi capaz. a ter por ela o verdadeiro amor incondicional, não aquele cheio de condições "se você for gay eu não te aceito. se você não for bem-sucedido também não. não te criei pra isso"! e assim por diante. essa criança não teve esses pais. ela espera por você pois confia, ama e é feliz. ninguém nunca a maltratou. ela não sofre! o que chamamos sofrimento é a saudade que sentimos dela. sofremos pois nos falta algo para continuar vivendo. um sentido, uma parte. nesse processo não precisamos ter pressa pois ela é a unica parte de nós que é comprometida. ela é paciente e espera enquanto perdemos tempo odiando o passado. mas não há como pular etapas nem muito menos existe uma pilula magica. para encontrar o caminho basta saber que existe aquilo que sentimos falta. essa também deve ser nossa meta.  e quando o dia do grande encontro chegar você vai compreender que ela nunca te esqueceu, nunca te abandonou e nunca duvidou de ti! esse talvez seja um dos dias mais felizes da sua vida.  e assim adiante...

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